Era uma tarde de domingo.

E eu estava preparado para abocanhar o café da tarde mais delicioso do mundo.

Pães. Roscas. Leite. Bolachas. Bolos.

Era um café digno de hotel 5 estrelas.

A Master chef? Minha tia Lúcia.

Tia Lúcia sempre se orgulhou do seu café da tarde.

Eu sempre me orgulhei de comê-lo.

Comecei com um pedaço de queijo derretido dentro de um pão quentinho. Tão quentinho que dava para sentir o amor do padeiro dentro dele. Para acompanhar: uma xícara tamanho canoa de café feito na hora. Não suficiente, enchi até o topo com leite espumante digno de lapidar bigodinhos brancos em bocas rosáceas. 

Após 4 mordidas e 3 tomadas – notei algo estranho: minha tia Lúcia não estava me acompanhando na comilança. Pelo contrário, ela estava admirando meus prazeres alimentícios com sua mente. Só que de bem longe. E por mais que em seu rosto estivesse cravado o mais sincero dos sorrisos – eu sabia que algo estava errado.

Falei, “tia, a senhora não vai comer comigo?”

E ela respondeu, “Claro, Matheus. Você está com uma boca tão boa que eu quase me esqueci de comer.” E ela se juntou a mim. Com o seu corpo. Porque em sua mente passava um sofrimento enorme.

Ela colocou um gole seco de café puro sem açúcar em sua xícara molecular. Para acompanhar, fez alguns ovos sem óleo em um frigideira anti-aderente. E só. 

Era sua primeira refeição do dia (eram 3 da tarde). E ela tinha cortado o açúcar de tudo.

• Carboidratos? Jamais.
• Frutas? Não nessa vida.
• Adoçante no café ? Beber detergente é melhor.

Vendo-a comer tornou o prazer do sabor do pão em um rasgo de tristeza no meu coração.

Perguntei, “Que ótimo Tia, parece que a senhora está querendo perdendo uns quilinhos, certo? É assim que você está comendo agora?”

“Sim, Matheus. Primeiro, eu acordo e só tomo água com limão. Depois, faço um jejum intermitente até às 3 da tarde. Isso libera bastante hormônios saudáveis. Nessa hora, eu faço meu desjejum com zero carboidrato. Você não ouviu que carboidratos explodem insulina e te deixam gorda? O mesmo serve para frutas, frutose é puro veneno. E ah, quase esqueci, zero adoçantes, refrigerantes zero ou qualquer outra coisa processada. Tudo 100% natural.”

Eu via ela falando e falando e falando. Mas seu espírito não seguia suas palavras. Aquela mulher estava em um profundo estado de sofrimento. Ela havia sacrificado o que mais amava na vida: um bom pãozinho quente com um cafézinho com leite. 

Eu não quis ser chato. Então, seguimos com nossa refeição juntos.

Até que o Fred se juntou a nós. Fred é o cachorrinho da minha tia.

Cachorrinho é apelido. Está mais para cachorro Faustão.

Vendo o Fred, falei: 

“Uau tia, o Fred engoliu uma bola de basquete? Esse cachorro está do tamanho do meu primo! (meu primo tem 32 anos e trabalha de segurança em uma balada).”

Ela olhou arregalada para mim e disse:

“Poxa, está mesmo, não é? Eu tenho que fazer alguma coisa para ele emagrecer. Acho que vou reduzir um pouquinho sua ração. E também vou sair com ele para fazer umas caminhadas.”

Ouvindo isso, notei a diferença nuclear na mesa.

Quando o assunto era perder gordura para ela – aqui o que ela fazia:

• Cintas vibratórias para estimular músculos sem academia.
• Géis redutores que queimam gordura localizada sem treinar.
• Jejum intermitente para estimular hormônio do crescimento.
• Dieta zero pães, bolos e tortas para reduzir os níveis de insulina.
• Evitar frutas, adoçantes, processados e tudo na vida que é gostoso.

• Mover mais.
• Comer menos.

Eu finalizei meu café, dei um beijo na tia Lúcia, um carinho no Fred e fui embora pensando…

Quanto nós complicamos problemas quando nós somos os protagonistas. Mas sempre temos a resposta na ponta da língua quando alguém nos aparece com a mesma tribulação. 

Depois de alguns dias, eu enviei meu melhor artigo sobre nutrição para tia Lúcia. Ela amou o conteúdo. E juntos, ajudei-a a mudar algumas coisinhas na sua vida de comilança.

Primeiro, voltamos a tomar seu ilustre café da manhã. Ela odiava jejum. E não há nenhum benefício dourado para fazê-lo. Todos os benefícios nascem da restrição calórica diária.

Segundo, voltamos a comer pão. E ensinei que a dieta cetogênica só funciona porque corta diversos alimentos altos em calorias. Doces. Tortas. Bolachas. Mas que todos podem fazer parte de uma dieta saudável se você controlar o total de calorias diário. Também ensinei que picos de insulina não são vilões. O excesso de peso que causa problemas.

Terceiro, voltamos a comer frutas. Porque são ótimas fontes de fibras. Matam sua fome. Possuem vitaminas maravilhosas. E te ajudam a comer menos calorias, o que pode resultar em perda de peso no futuro.

E por último, eu a ajudei a voltar a ter algum prazer na sua dieta com adoçantes, refrigerantes zero e alguns processados de vez em quando. Os quais são todos seguros (sim, não vão te matar) e ainda podem ajudar na redução de peso devido a uma redução nas calorias. E é no alcance do seu peso normal que moram todos os benefícios que te prometem. Melhor energia. Melhor sensibilidade a insulina. Menos dores. Menor chance de diabetes. E um coração de atleta.

Enquanto ao Fred? É estranho. Mas ele era o que mais acertava no fitness naquela casa. Ele caminhava 3x por semana. E comia sua ração reforçada em ferro. A minha recomendação foi que ele continuasse com sua disciplina canina dourada.

Após alguns meses, minha tia partiu para perder 8kg de gordura. Comendo o que ama. Frutas. Pães. Adoçantes. Tortas. Bolos. No horário que ela preferisse. Bastava que ela  batesse suas calorias e proteína totais do dia.

Ela também esqueceu rotinas de abdômen idiota na internet. Parou de ficar dançando até cair a calça da bunda na frente da TV com professores de educação física que parecem um graveto. E substituiu tudo por 3 sessões de 30 minutos na academia com pesos.

Junto com tudo isso, Tia lúcia e o Fred ficaram mais saudáveis, felizes e atraentes.

E toda vez que eu lembro dessa história me vem a cabeça:

As vezes, a solução simples que você evita – é a mais eficaz para resolver seu problema.

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Obrigado James Smith pela ideia.